domingo, 3 de junho de 2012

Aquiles e Heitor

Aquiles ataca Heitor - obra de Peter Paul Rubens (1577-1640).


"Canto de ira, deusa, a destruidora ira de Aquiles, filho de Peleu, que trouxe incontáveis dores aos Aqueus, e mandou muitas almas valiosas de heróis a Hades, enquanto seus corpos serviam de alimento para os cães e pássaros, e a vontade de Zeus foi feita ..." (introdutório de a Ilíada de Homero)

Fiquei surpreso ao ver o post de um bom irmão de armas que explicitava as diferenças entre os “pés pretos”(soldados comuns) e aqueles que usam “botas marrons”(forças especiais); e muitas existem, sim. Na mesma hora me subiu a mente alguns tercetos do canto de Homero na Ilíada, e aquilo que a história guardou para Aquiles e Heitor.
Acredito que a batalha entre esses dois heróis é o ápice da primeira guerra de proporções épicas da história. Páris, cego pelo amor, dá início ao maior drama da antiguidade clássica ao conquistar Helena, mulher de Menelau irmão de Agamenon. Assim se faz um cerco de dez anos a cidade de tróia, fato que queimaria a memória ocidental de tal forma que atravessaria vivo milênios.
Ocorre que Pátroclo, amante de Aquiles, pede emprestada a armadura desse herói para liderar um ataque. A escaramuça funciona, os troianos acreditam estar enfrentado Aquiles. Mas isso também desperta a atenção de Heitor, que encontra com Pátroclo em campo de batalha. O herói troiano abate no campo da honra o primo do maior dos guerreiros gregos.   
Tal fato ensandece a alma de Aquiles, que já pensava em desistir do cerco, entretanto, a vingança do amante lhe delega uma nova motivação. Aquiles desafia Heitor para um duelo no nono ano de guerra. Heitor, o bom soldado, imagina que essa seria uma oportunidade de por fim no combate, assegurando assim a liberdade para aqueles que ele amava.   
Aquiles, descendente de Zeus, facilmente atravessa sua lança na garganta de Heitor. Não satisfeito com isso, amarra o corpo de Heitor a sua biga e o arrasta ao redor das muralhas de Tróia. Negar o túmulo ao homem antigo era o pior dos castigos, pois para eles a existência acabaria na falta da lembrança.
 Então se dá a passagem mais tocante de todo o livro. Príamo, bom rei de Tróia, pai de Heitor, vai ao acampamento de Aquiles durante a noite. Em um dialogo marcante lhe pergunta se seu filho morto lhe foi desleal, se ele não o honrou em batalha, e porque negava para esse homem a sepultura. Aquiles, ao ver justiça nas palavras do velho rei entrega o corpo de Heitor aos troianos.    
Imagino que sempre existiram dois tipos de soldados. Um como Aquiles, que luta pelas cores da gloria e notoriedade; e outro como Heitor, que pensa em garantir a segurança de sua família e dos que cerram fileiras ao seu lado. Ao pé preto sempre foi reservada a maior carga; se manter firme junto as trincheiras. Esse último, diferente do outro, não luta por glória, riqueza ou notoriedade. Ele já sabe que elas nunca lhe virão. Entretanto, acreditam que mesmo o seu maior sacrifício será mais uma expressão de sua inconformidade contra a opressão dos seus.
No tempo que passei em armas, sempre quando amarrei minhas botas pretas o fiz pensando no colega que estava no posto com as falanges enrijecidas, ou em minha família em casa. Pois entendia a nossa senda era feita de pedras. Também sabia que sem o “pé preto” o nobre “boot marom” jamais teria sua gloria...
O mais curioso desse canto é que justo Páris mata Aquiles, quando a cidade de Príamo cai por terra. Pagando assim uma fatura zerada ne seus atos por conta desse ter roubado a virtude da beleza de Menelau, e também, avivando o mérito da engenhosidade de Ulisses. Provando, também, mais uma vez, que o amor é uma arma mais forte que a espada. Assim como, que independete da cor de suas botas, se não tiveres cultivado a mesma paixão de Páris, de nada batalha alguma vai lhe valer...      

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