quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Huitzilopochtil, o Colibri Canhoto; Deus dos Guerreiros Esquecidos.





Nessa semana me deparei com um pequeno, mas recorrente, grupo de perguntas: Afinal, quem foram os Astecas? Qual eram suas técnicas, artes e mitos?

Ao iniciar o tratamento desta incomoda coceira intelectual, minha primeira descoberta foi a decepcionante conclusão do quanto não damos a devida importância a essa magnífica civilização. Existe realmente muito pouco escrito sob; e quando feito comumente tal assunto é abordado sobre forma fantasiosa, oscilando entre mitificações de contatos extra-terrestres e teorias apocalípticas. (Nada contra o pessoal da “nova era”, mas por vezes eu acho que o que eles tratam por “oculto” não é mais que eclipsar a beleza e a grandiosidade do espírito humano). A segunda foi a maravilhosa descoberta de um grupo social fomentador de uma cultura cujos ciência e arte era riquíssima e deliciosamente original. Uma sociedade repleta de concepções de universo bastante particulares, soluções imaginativas, iconografia fantástica, posuidora de medos, anseios e esperanças extraordinários ante a uma realidade desafiadora.

Mestres na solidificação da improvável teoria dos “sentimentos mistos”, sem dúvida, conheciam o ápice do termo culto sublime. Diderot, em uma carta a Sophie, indica esse termo como um misto entre o êxtase e o terrível. Para tal descreve uma cena onde uma linda mulher semi-nua oferece doce néctar alcoólico servido dentro do sangrento crânio de nosso inimigo. Essa imagem mental, apesar de toda valorização dos sentimentos antagônicos, tem um impacto mental pífio ante o ritual de sacramento de um rei em Tenochtitlan. Onde cerca de 70 mil prisioneiros foram sacrificados em um ritual que arrancava-se da cavidade tórax seus corações, ainda palpitantes, para serem oferecidos para Huitzilopochtli, o colibri-canhoto, Deus da guerra e dos vencidos. Após mortos, corpos pintados eram atirados aos espctadores sendo avidamente devorados por uma multidão em êxtase. Suas peles eram esfoladas e utilizadas como uma segunda pele do cidadão, que a usava até que apodrecesse, neste meio tempo o Asteca assumia a personalidade da vítima, e como esse deveria ser tratado pelos demais.

Eram grandes arquitetos que artificializam o terreno com pirâmides tão grandes como montanhas, transformando a paisagem tropical. Possuíam aquedutos, dominavam técnicas de irrigação, cantuária, orientação solar, edificação sobre palafitas a ponto de Tenochtitlan, edificada sobre um lago, foi classificada por arqueólogos como a Veneza do antigo Novo Mundo. Artistas singulares possuíam uma linguagem representativa pictórica rica e magnífica, muito da qual ainda não formamos concepção imaginativa adequada. No campo das ciências eram capazes de uma leitura astronômica primordial, elaboraram, embasados nesse conhecimento, um calendário mais preciso que o nosso atual gregoriano. Para tanto desenvolveram um linguagem matemática autentica, solidificada em um cordão com nós, que usavam para realizar cálculos e transmitir mensagens em meio as florestas do mundo pré-mexicano.

Tal civilização certamente não foi dada gratuitamente a selvagens por piedosos visitantes do espaço! Fora conquistado com o melhor que reside em nossas almas: esperança e agonia, erros e acertos, bondade e crueldade, ciência e fé, arte e destruição, trabalho e martírio... Somente assim enxergo como esse nômades realizaram no hiato de 200 anos o que Romanos e Egípcios levaram mais de 1000 para fazer. O mais irônico disto tudo é que a mesma cultura que os glorificou os destruiu. Quando Cortez desembarcou no novo continente tal fato catastroficamente coincidia com a profecia do retorno de Quetzalcoalt. Divindade branca de olhos azuis e barba longa que chega para ficar e dominar o mundo para sempre...

domingo, 11 de outubro de 2009

A Descoberta de Certos Centauros...



Algumas coisas que tenho escutado desde a minha mais tenra infância: -O seu florete não é uma bengala! –O arco de seu violino não é uma vara! –O escalímetro não é uma régua!


Após alguma resistência natural ao pragmatismo da oportunidade; essas afirmações se transformam em um ritual canônico incontestável. Ao ponto da imediata repreensão a qualquer um que ousar profanamente assim os utilizar. Por fim se são fomentadas a completa repulsa a graciosa e flexível bengala, a utilidade incontestável do prolongamento do próprio braço e a praticidade retilínea e milimétrica. Assim tais objetos tornam-se como centauros que apesar de uma poderosa natureza eqüina possui o artificialismo da virtude erudita do intelecto humano. Quando os utilizamos tais equipamentos, nesse cenário dualístico tomamos as vestes de personagens como Ájax, Enéias, Teseu, Aquiles ou Jasão ao serem instruídos por Quiron.


Destarte, eis o que nos separa das demais criaturas da natureza: A certeza em que devemos negar nossa parte eqüina! Não obstante, talvez o mais fabuloso de Quiron seja justo sua metade cavalo...

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O Barroco e os louros de uma improvável vitória.




Bernini ao esculpir Apolo e Dafne captura toda a essência do Barroco. Tanto em movimento, dramaticidade e antítese do período. Contudo, aqui, não quero me prender nas características sociológicas históricas do momento, mas sim na reflexão sobre mito.

 

Se você não lembrar, Apolo, após a derrota de uma hidra infla mais seu, já então monumental, ego. Desta vez a ponto de causar grande transtorno no Olimpo. Ao passo de importunar o filho de Diana, o Cupido que preparava seu arco. Apolo lhe fala em tom arrogante: “Garoto, você é cego, como pode possuir também a mesma arma que eu? Guarda-te a sua arpa e te limite as liras”. Neste ponto a divindade retruca: “Minhas flechas nada matam, contudo podem lhe causar dor pior que a morte.”. Como deliciosa vingança lhe prega uma peça, uma justiça forçada.  O Cupido flecha seu coração por Dafne e Dafne ao contrário por ele. A virgem sem mais ter com quem lhe ajude recorre ao seu pai. Peneu lhe tira as esperanças: -Se Apolo a quiser, ele provavelmente a terá. Contudo esse recorre a um encantamento, visto o tamanho da repulsa da rapariga ao seu algoz, feitiço que iria assim que Apolo encostar a seu corpo a transformar em um Loureiro. E assim o foi feito, ao toque do Deus a ninfa se transforma em uma robusta árvore. Não podendo mais possuir sua fonte de desejo Apolo toma um ramo de seus galhos e adorna sua cabeça. 

 

Fica aqui o pensamento, será que os louros da vitória não são mais uma lembrança do que perdemos, ou deixamos de ganhar, ao chegar em nossos objetivos? Antagonismo Barroco a parte, ainda é uma pergunta pertinente em nosso dia-a-dia. O que me assusta é a aparente atual aceitação da música de Bach e a temporalidade da poesia do velho Gregório. Me pergunto, o que perdemos entre a alma e mente desta vez?