Ontem um amigo meu que é jornalista me perguntou se eu já havia notado o quanto Zumbis estão na moda. Sou filho da geração de 80. Nasci em um uma época que os deuses já
estavam mortos e os últimos heróis vivos haviam se prostituído, então todos nos
também desistimos de lutar. Tendo ficado já passado na história as gerações dos
perturbados Bitnicks, dos complacentes Hippies e dos apocalípticos Punks
tivemos que encontrar nossa identidade própria. Corríamos sem saber para o lugar onde iríamos
chegar, mas tínhamos a certeza que não era ali que queríamos ficar. Precisávamos
fugir, ou como romântico Bocage falou: -Tenho muita saudade de todo o lugar de
onde não estou. Nesse palco dos anos 80,
como rota de fuga, toma grande força o mito caribenho do Zumbi, que volta a estar na
moda hoje.
É meio desconcertante pensar em um corpo desprovido de alma
que simplesmente existe, ou um ser humano morto-vivo. Vítima de das práticas do
Vodoo, que no dialeto Dahomey quer dizer justo espiro. E como em toda crença
africana, tal prática se manifesta de toda sua força em uma forma pura, autônoma e não
maniqueísta. Derivado do cristianismo primitivo e de vários ritos africanos esse culto se edificou e difundiu por todo o caribe. Tendo origem na República do
Haiti, sociedade onde os Houngan e as Mambo, os sacerdotes da prática, são
ainda detentores de muito prestígio. Curiosamente é local onde também a primeira
revolta escravista encontrou o terreno fértil para florescer. Alguns antropólogos, estudiosos desse culto,
afirmam que tais criaturas zumbis realmente existem. Porem também desmistificam
tal fato. A prática vernácula de suas crenças os levou as toxinas de alguns
sapos caribenhos que induzem as pessoas a catalepsia, demência e as terríveis
necroses pela falta do contato com sistema nervoso periférico. Tornando um ser
humano em um escravo da sugestão, pronto a atender aos caprichos de seu mestre.
Será que esquecemos da liberdade, na ânsia dessa fuga as idéias de
escravidão voluntária, ou do poder originário, em cada dia que atamos uma
gravata em nosso serviço! Focault aparte, eu acredito que isso transforme todos nos em zumbis
de uma forma deliberada e aceita, e por fim vendemos nossa alma. Em uma época que os que dão as cartas hoje só
temem as mesmas ideias da revolução francesa, inspirada na igualdade entre os homens. Talvez por isso, edificamos novos modelos de virtude como a
"Revolução Verde" e o "Politicamente Correto", que hoje já não valem mais que
carcaças dos heróis jazendo em um campo de batalha; assim como os druidas Celtas já praticavam... Hoje novamente nos vendemos nossas crenças em caixas cada vez menores e com melhores resoluções. Poderia
a dinâmica geração de 80 ter se convertido em um bando de letárgicos zumbis? É
certo que hoje vivemos em uma etapa meio retro perdida nos anos passados de 50, 60 ou 70... Nada mais que outro escapismo; que assim como nos temerarios antigos românticos de séculos passados, não me agrada em nada!